Envelhecer é a única perspectiva para quem não quer morrer prematuramente. Por sorte, o avanço da tecnologia médica e a adoção de medidas sociosanitárias, entre outros fatores, vêm permitindo o crescimento do número de pessoas que atingem a velhice. Esse crescimento se dá em tal medida, que a Organização das Nações Unidas (ONU) já realizou duas Assembleias Mundiais sobre o Envelhecimento. A partir delas, lançou o alerta sobre os riscos de fracasso de qualquer plano de desenvolvimento, caso não leve em conta esse fenômeno mundial. Como um dos caminhos para vencer esse desafio, a ONU também propôs o conceito de envelhecimento ativo, entendido como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, de forma a permitir que a população vá envelhecendo com qualidade de vida. No Brasil, aproximando-se dessas diretrizes, assimila-se esse conceito e são elaboradas políticas públicas, que são fruto das orientações internacionais e da luta do movimento organizado. São marcos desse processo a Constituição Brasileira de 1988, a Política Nacional do Idoso de 1994 e a aprovação do Estatuto do Idoso em 2003. Associados a esse conceito e diretrizes, defendemos um mundo com velhabilidade, termo que faz uma analogia com a proposta de construção de um planeta com sustentabilidade. Nesse caso, um mundo em que possamos vincular o desenvolvimento sustentável, com propostas de criação de espaços e estruturas, capazes de envolver pessoas idosas, jovens e adultos, enfim, a todos, pois precisamos crescer e envelhecer dignamente. Trata-se de planejar um mundo em que se oportunizem não apenas novas habilidades, mas também uma dinâmica inclusiva, para que a velhice seja uma realidade cômoda para todos. Não é tarefa fácil mudar ideias tradicionais, tais como as que associam juventude a um estado ideal de saúde e produtividade a ser perseguido. Porém, não se trata de uma tarefa impossível de ser realizada diante da visibilidade alcançada e das alternativas sugeridas por alguns estudiosos e, principalmente, pela luta organizada das próprias pessoas que hoje estão idosas. Uma das primeiras medidas é encarar a diversidade desse coletivo, que espelha a mesma diversidade presente em todas as gerações. Ninguém fica velho ou velha de repente. É a mesma população jovem, tão diferente e diversa, que chega à velhice diferente e diversa. Este número da Revista Coletiva celebra o Dia Internacional das Pessoas Idosas instituído pela ONU em 1991. Em 1940, o Brasil somava 1,7 milhão de pessoas com 60 anos ou mais de idade. Em 2010, esse número saltou para 20,6 milhões. Identificamos as principais questões suscitadas por esse acelerado processo de envelhecimento de nossa população. Para discuti-las, contamos com a colaboração de estudiosos e militantes da área. Nosso entrevistado é o médico Alexandre Kalache, que fala de sua experiência como diretor do Programa de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao ocupar esse cargo entre os anos de 2002 e 2007, Kalache foi um dos responsáveis pelo Projeto Mundial Cidade Amiga do Idoso. Os artigos são assinados por pesquisadoras de renome na área de estudos do envelhecimento. Guita Grin Debert, Ana Amélia Camarano, Neusa Gusmão, Alda Motta e Maria Rosângela de Souza tratam das diferentes perspectivas da velhice, mostrando quais são as atuais tendências de envelhecimento da população brasileira e os problemas decorrentes desse processo nos planos social e político. As imagens de nossa seção especial foram produzidas pela fotógrafa Suziene David, antropóloga que se dedica ao registro etnográfico visual de nosso cotidiano. Seus personagens idosos brincam no carnaval de Recife. Na seção de reportagens, destaca-se o papel dos conselhos e conferências dos idosos como meios de garantia e luta por direitos. Também são tratadas as diferentes formas de representação da velhice pelos jovens, idosos, moradores da cidade e do campo. Editora temática: Isolda Belo da Fonte | Editores: Alexandre Zarias, Allan Monteiro e Pedro Silveira | Capa: Suziene David | Especial: Suziene David | Entrevista: Alexandre Kalache | Reportagens: Alexandre Zarias, Anna Marques, Júlia Arraes e Lorena Aquino | Artigos: Alda Motta, Ana Amélia Camarano, Guita Grin Debert, Maria Rosângela de Souza e Neusa Gusmão.