ISSN 2179-1287
Número 3 | jan/fev/mar 2011

Índios do Nordeste

Marcondes Secundino
Capa: Bruno Pacheco de Oliveira

editorial_03Índio Tupinambá. Foto: Bruno Pacheco de Oliveira.A Coletiva homenageia os Povos Indígenas do Brasil, em especial os Índios do Nordeste, numa parceria com o Núcleo de Estudos Indígenas da Fundação Joaquim Nabuco (Nein/Fundaj).

A entrevista desta edição traz um pouco da história da antropologia brasileira e da trajetória intelectual do antropólogo João Pacheco de Oliveira, professor de Etnologia Indígena do Museu Nacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os artigos tratam da realidade dos indígenas que vivem no Nordeste. Os textos versam sobre os processos de regularização das terras indígenas, direitos e cidadania; gênero entre os povos indígenas numa perspectiva relacional; direitos indígenas contemporâneos, injustiças históricas, o Estado brasileiro e os acordos internacionais a partir da atuação do Ministério Público Federal no Nordeste; o protagonismo do movimento indígena e o desafio da construção do presente; o Estado, a saúde indígena e o paradoxal diálogo entre o conhecimento ocidental e o saber tradicional.

As reportagens apresentam um quadro dos direitos e das políticas públicas que envolvem educação diferenciada; autoidentificação indígena e o fenômeno dos índios urbanos; segurança alimentar e os conflitos gerados pelas sobreposições de Unidades de Conservação em Terras Indígenas.

A exposição “Índios: Os Primeiros Brasileiros” é o destaque de nossa seção Especial. Nela são apresentadas maravilhosas fotos do acervo que já percorreu vários museus do país, num projeto conjunto entre o Nein da Fundaj e o Laboratório de Estudos de Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (Laced), do Museu Nacional (UFRJ).

Agradecemos a todos os colaboradores e esperamos que o leitor realize sua própria viagem numa parte da história emblemática do Brasil. Ela nos permite conhecer o difícil diálogo entre diferentes e o árduo percurso para a construção da cidadania entre os setores populares da sociedade nacional.

Os problemas enfrentados pelos índios que vivem no Nordeste, ainda há bem pouco tempo relegados a uma posição periférica em estudos e pesquisas, têm sido inseridos timidamente na antropologia brasileira e nas instituições regionais.

Durante todo o século XX, esse desinteresse deveu-se, principalmente, à atuação míope dos representantes do Estado brasileiro que insistiam em não reconhecer os povos indígenas da região, desconsiderando o processo histórico colonial que acarretou misturas e trocas socioculturais entre diferentes segmentos da sociedade. Uma das justificativas era a de que os indígenas contemporâneos não exibiam mais um fenótipo autenticamente indígena.

Além disso, a antropologia não enxergava a região como área etnográfica relevante em função de estar hegemonicamente comprometida com uma perspectiva de cultura pura, isolada. Tratando-se dos povos dessa região, todos estão circunscritos em municípios e, no máximo, localizam-se em zonas rurais, interagindo intensamente com os demais munícipes no comércio, nas festas, nas práticas esportivas, etc.

Reagindo a essa condição, os povos indígenas passaram a questionar a política indigenista oficial e os cânones de certa antropologia que imperou durante décadas no país. Amparados pela Constituição Federal de 1988, passaram a fazer reivindicações no âmbito da esfera pública, reclamando o reconhecimento étnico e territorial. Eles, que até então não passavam de pouco mais de meia dúzia de povos, passaram, já na década de 1990, a mais de duas dezenas reconhecidas e com alguns territórios demarcados. Na atualidade, somam cerca de 80 povos indígenas com 110 situações territoriais, distribuídos em todos os estados da região, segundo dados do mapeamento dos povos e terras indígenas do NEIN/Fundaj.

Marcondes de Araújo Secundino
Editor Temático
Coordenador do Núcleo de Estudos Indígenas (Nein) da Diretoria de Pesquisas Sociais/ Fundaj.

Nos seus seis anos de existência, o Nein coordenou dois projetos de pesquisa de amplitude regional sobre os povos indígenas do Nordeste e Leste brasileiros, em parceria com o Laced. O primeiro projeto foi a exposição museográfica itinerante sobre os Índios do Nordeste, “Índios, Os Primeiros Brasileiros” (2006-2007), que se instalou nas cidades de Recife-PE, Fortaleza-CE e Rio de Janeiro-RJ, aguardando novas incursões. O outro projeto  é “Território e Memória Indígena no Nordeste Brasileiro” (2007-2010), cujos resultados serão divulgados em breve.

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Editor temático: Marcondes Secundino | Editores: Alexandre Zarias, Allan Monteiro e Pedro Silveira | Capa: Bruno Pacheco de Oliveira | Especial: Catálogo da exposição Índios: os Primeiros Brasileiros | Entrevista: João Pacheco de Oliveira | Reportagens:  Ana Laura Farias, Anna Marques e Camila Almeida | Artigos: Fernando Dantas, Kelly Oliveira, Marcondes Secundino, Maria Rosário Carvalho, Renato Athias e Sérgio Brissac | Colaborador: Marcelo Melo da Silva.

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