ISSN 2179-1287
Número 10 | jan/fev/mar/abr 2013

Ensino de Sociologia

editorial_10A inclusão da Sociologia nos currículos do Ensino Médio, mais uma vez, amplia as possibilidades de inserção dos saberes das Ciências Sociais nos níveis de formação básica. Pode-se afirmar que, desde o final do século dezenove, pratica-se o ensino das Ciências Sociais no Brasil. Se incluirmos nesse campo a Antropologia, a Ciência Política, a Economia, o Direito, a História, a Geografia, a Psicologia, a Estatística e a Sociologia, observaremos que há livros, manuais didáticos, artigos e documentos que se constituem em fontes secundárias sobre como ocorreu e como tem ocorrido o ensino dessas disciplinas.

Ao longo desse tempo todo, quase mais de um século, o processo de institucionalização contou com lutas por autonomia das disciplinas mencionadas acima, que se estenderam até os dias de hoje. Os conhecimentos das Ciências Sociais entraram nos currículos da antiga escola secundária através da Sociologia. Entraram também via História, Geografia, Economia, Psicologia, Educação Moral e Cívica e Estudos Sociais. Mas, de forma explícita, e buscando autonomia científica em relação às outras disciplinas, pode-se considerar que foi com a inclusão da Sociologia, no período de 1925 a 1942, que identificamos evidências da institucionalização e sistematização de uma ciência da sociedade. Desde então, a Sociologia passou a figurar nos textos de jornais, nos currículos dos cursos de Medicina, Direito, Formação de Professores, Engenharia e outros. As pesquisas atuais dão pistas que o ensino de Sociologia tem uma história contínua, com rupturas e sobressaltos nas políticas educacionais nacionais e locais, mas com pequenos liames que não deixam a teia da história quebrar-se totalmente.

Essa história ganhou novos contornos a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996. Essa Lei impôs ao Sistema de Ensino que garantisse os conteúdos de Sociologia. Evidentemente, ela não disse como as escolas deveriam fazer isso e, a partir de 1997, foi iniciado um longo debate no Conselho Nacional de Educação, no Ministério de Educação, nas secretarias de estado de educação, nas entidades dos profissionais das ciências sociais, especialmente de sociólogos, entre outros agentes e agências. Desse intenso debate com lutas e disputas, resultou a legislação que obriga o ensino de Sociologia em todas as séries/módulos do Ensino Médio. Esse marco legal garantiu que a Sociologia passasse a fazer parte de todas as políticas curriculares, de formação de docentes, de materiais didáticos, de formulação de diretrizes de conteúdos e afins. A Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) foi chamada em todos os processos de definições, mobilizando seus quadros envolvidos com a temática e ampliando os espaços na associação para a reflexão e ação em torno da consolidação das políticas para o ensino de Sociologia na Educação Básica.

Vivenciamos uma intensa mobilização de estudantes e docentes da graduação em ciências sociais em torno do Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID) e a rápida produção de pesquisas, métodos, conteúdos e materiais de ensino. Estamos, sem dúvida, em outra etapa de institucionalização do ensino de Sociologia. Este número da Revista Coletiva reflete este momento atual e os artigos representam uma parte das demandas relativas à Sociologia, à escola, à licenciatura, aos conteúdos e aos materiais didáticos, ao mercado de trabalho que se amplia e aos persistentes problemas da educação nacional.

O artigo de Rafael Ginane Bezerra nos convida a refletir sobre as razões de se ensinar sociologia para jovens partindo-se das experiências com esses estudantes sedentos de espaços onde possam perguntar. Perguntar, por exemplo, sobre a utilidade de aprender sociologia. Considerando essa pergunta em sua dignidade juvenil, Bezerra propõe algumas pistas para falarmos sobre os motivos e as motivações de se estar na escola e de aprender sociologia. Desse questionamento, podem nascer futuros cientistas sociais. É o que Mario Bispo dos Santos ressalta nos argumentos do seu artigo. Seu texto destaca que o ensino de sociologia é capaz de ajudar o jovem a pensar sociologicamente, a cultivar a imaginação sociológica, certamente “chamará” e despertará muitos talentos a se tornarem antropólogos, cientistas políticos, sociólogos ou professores.

Se o ensino de sociologia na educação básica despertará vocações é importante pensar para quais atividades no mercado de trabalho. Ronaldo Baltar traz a configuração do mercado de trabalho para cientistas sociais. Um mercado dinâmico e em crescimento não só na educação, mas em outros espaços de assessorias, pesquisas e planejamento. No caso da educação básica, é um mercado ainda não ocupado plenamente. A produção de professores ainda se concentra em alguns estados e que não foram totalmente absorvidos pelas escolas. Tanto o mercado para bacharéis como para licenciados sofre com a competição assídua de outras áreas e profissões, tais como: Serviço Social, Pedagogia, Economia, Geografia, Psicologia, entre outras afins. Contudo, observa-se a estruturação de um mercado aberto aos cientistas sociais, especialmente no Ensino Médio.

Os cinco artigos finais tratam das demandas internas à consolidação do ensino de Sociologia: os problemas nas escolas, a produção de livros didáticos, os desafios de formação de professores de sociologia, as experiências com laboratórios de ensino, nas instituições de ensino superior e nas escolas, e a criação do Mestrado Profissional em Ciências Sociais para o Ensino Médio (MPCS).

Sueli Guadelupe de Lima Mendonça e Matheus Bortoleto Rodrigues sintetizam os enfrentamentos persistentes diante da resistência ao ensino de sociologia presentes no campo cientifico e no interior das escolas. Nas escolas, há ainda uma crise de sentidos e significados do trabalho docente e discente que podem minar as possibilidades de ensino-aprendizagem de modo geral e, de modo particular, de sociologia. Anita Handfas destaca o papel do livro didático na disseminação científica. No Brasil, esse veículo se constitui em um dos principais e mais massificados. O Programa Nacional de Livro Didático demonstra esse dado. Handfas exemplifica, ainda, como o livro didático explica conceitos e ideias criados no campo cientifico, garantido o registro de um recurso de ensino presente no dia a dia das salas de aula do Brasil.

Marcel Mano e Marili Peres Junqueira indicam outros registros sendo inventados no âmbito da formação de professores de sociologia na Universidade Federal de Uberlândia e revelam o impacto do PIBID na organização do estágio supervisionado nas escolas e na relação entre teoria e prática, saberes acadêmicos e saberes escolares ou saberes dos professores sobre o ensino de sociologia. Demonstram que o PIBID tem garantido um verdadeiro laboratório de criação do saber docente cruzando a sociologia e a educação. A mesma percepção apresenta Angela Maria de Sousa Lima sobre a experiência de Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de Sociologia da Universidade Estadual de Londrina. Seu artigo indica as possibilidades concretas de superação das fronteiras entre escola e universidade, ciência e disciplina, professores da universidade e professores das escolas. Quando isso acontece, a produção de materiais e de aulas ganha uma dinâmica de enriquecimento teórico e pedagógico.

Alexandre Zarias e Túlio Velho Barreto descrevem a experiência de criação, na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), do primeiro programa de mestrado profissional voltado especificamente para a qualificação de professores de Sociologia do Ensino Médio ou de licenciados em Ciências Sociais ou Sociologia. Segundo os autores, o desafio do MPCS é abrir novos horizontes de formação tanto para aqueles que já ensinam Sociologia, sem que tenham a formação na área, quanto para os egressos das universidades que desejam fazer do ensino dessa disciplina um ofício no Ensino Médio.

A reportagem de Beatriz Albuquerque e Cláudia Ferreira e Júlia Teles sobre as experiências em escolas de Recife corroboram para reforçar as ideias apresentadas em todos os artigos. No relato retomamos todos os temas tratados, mas com a lente de zoom focada em Recife, demonstrando que nossos problemas, desafios e conquistas são mesmo nacionais, o que permite um diálogo verdadeiro, pois já temos códigos comuns.

O presente número traz ainda uma entrevista com a pesquisadora e professora da USP, Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins e, na sessão memória, imagens que retratam a luta por uma melhor educação do sociólogo, professor, e deputado federal Florestan Fernandes.

Editora temática: Illeizi Luciana Fiorelli Silva | Editores: Alexandre Zarias, Allan Monteiro e Pedro Silveira | Capa: Fotografia sem título. Arquivo do Inep, Acervo do Cehibra/Fundaj | Entrevista: Heloisa Martins | Reportagem: Beatriz Albuquerque, Cláudia Ferreira e Júlia Teles | Artigos: Alexandre Zarias, Angela Maria de Sousa Lima, Anita Handfas, Mário Bispo dos Santos, Marcel Mano, Marili Peres Junqueira, Matheus Bortoleto Rodrigues, Rafael Ginane Bezerra, Ronaldo Baltar, Sueli Guadelupe de Lima Mendonça, Túlio Velho Barreto | Memória: Vera Lúcia Coscia

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